Censura

Talvez porque voltou o sol (creio que foram 4 dias sem ele), talvez influenciado pela leitura do capítulo "Ler sem saber ler" de Larrosa (em Ensaios pedagógicos - Coleção "Educação, Experiência e Sentido") ou, quem sabe, por uma inapetência em escrever sobre o que segue, inapetência que lancinava meu corpo agora há pouco sob o sol, então invejei as leis dos batráquios e odiei mais uma vez as nossas.O que vai a seguir, vai com descuido, quase languidamente (que é como convém), por isso não se trata, mais uma vez, de um ajuizamento sobre nada e ninguém.Mesmo porque se fosse o caso de uma simples e enfadonha crítica, eu de pronto me incluiria entre os criticados.Censura, não é este o nosso título? Então, vocês viram? Quem viu mais do que eu, por favor "conte", "explique", mas não "justifique".Aconteceu no palco do Cinema, no palco dos intelectuais, com o público intelectual. Aconteceu em Gramado. A censura e mais do que Isso (deixo a você mais denominações) vingou forte, inesperada, de sopetão, quando um Estranho invadiu o palco dos kikitos para protestar sobre algo. Ele queria o microfone e o direito "presumido" de, mesmo como um Estranho no ninho, falar algumas coisas.No momento que ele adentrou o palco - correria - José Wilker estava de pé - me desculpem a imagem, mas Wilker me pareceu um Senhor de Engenho frente aos seus vassalos - impávido. Postural. Inventemos mais um neologismo: de uma Eretês (de ereto) a toda prova. De uma sobriedade...
No copião desse curta, instantâneo, o segundo fotograma mostra dois seguranças - daqueles enormes - que chegam por trás do Estranho, e um deles lhe aplica uma Gravata - a rigor! Ultraje a rigor.Arrastam aquela Criatura Inconveniente - persona sgradevole, para o fundo do palco, para o mais breu da cena.
Fim de cena, fim de curta.
À platéia atônita ou reconfortada só restou tempo para produzir um uníssono parcial uuuuuuuuuuuuu!! Arriscado traduzir o que seria esse “u”. Tudo se passou no palco do Cinema; no cinema (arte que, talvez, mais sofreu na carne - melhor, na lente, os horrores da censura dos anos de chumbo) aconteceu essa que é uma das cenas mais emblemáticas de - agora sim direi - violência e censura contra a livre expressão.
Creio que, neste instante, já sinto findadas as minhas reservas vitamínicas de C, D ou E que há pouco eu me suprira, então paro por aqui. Uma última bobagem minha, mas nos gentlemen intelectualizados de hoje parece que ainda vicejam os micróbiozinhos da insana mente censurante dos nada saudosos anos 70. Sigam vocês.

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails