1ª Oficina do Grupo "Cinema e Filosofia" no Coronel Pilar

ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO. Direção: Peter Cohen, Suécia 1992. Documentário. Duração: 121 min.

SINOPSE: Arquitetura da Destruição está consagrado internacionalmente como um dos melhores estudos já feitos sobre o nazismo no cinema. O filme de Peter Cohen lembra que chamar a Hitler de artista medíocre não elimina os estragos provocados pela sua estratégia de conquista universal. O veio artístico do arquiteto da destruição tinha grandes pretensões e queria dar uma dimensão absoluta à sua megalomania. Hitler queria ser o senhor do universo, sem descuidar de nenhum detalhe da coreografia que levava as massas à histeria coletiva a cada demonstração. O nazismo tinha como um dos seus princípios fundamentais a missão de embelezar o mundo. Nem que, para tanto, destruísse todo o mundo.

Temas: Estética; Política.

Comentário: No filme Arquitetura da Destruição, observa-se quão importante é para a sociedade a manutenção de sua memória – artística, histórica, entre outras – através de museus e repositórios de cultura. A prática de criar ambientes que congregam diversas formas artísticas de expressão do ser humano materializa conceitos presentes em anseios sociais. É de fundamental importância a presença de museus em nossas vidas, pois representam características de povos e culturas em diferentes períodos de nossa história. O ato de manter viva a memória para futuras gerações, estabelece uma idéia de tempo, relacionando passado, presente e futuro. No filme, pudemos observar essa presença temporal nos museus da Alemanha. O Estado Alemão, sob o comando de Hitler, destruiu obras de artes que não compactuavam com seu regime. Atitude que objetivava alcançar um ideal: supremacia da raça ariana, em detrimento as demais. Com essas observações, a sociedade busca em museus uma representação presente/passada/futura do meio social que a envolve. Portanto, o museu é gerador de tendências, mudanças e ideologias. Atitudes como a do governo alemão, destruição de objetos artísticos contrários ao regime vigente, não são absurdas se comparadas aos dias atuais. Muitas exposições de arte são introduzidas à população com fins comerciais e ideológicos, indo ao encontro de objetivos particulares. Portanto, é de profunda importância a função do museu em sociedade. Pode ele ser gerador de conhecimentos, conceitos, mantenedor de ordens sociais e políticas, levando até a destruição de vidas como apresentadas no filme. "Arquitetura da Destruição", documentário do sueco Peter Cohen, oferece uma interessante visão da maior barbárie cometida no mundo contemporâneo, o nazismo.
O filme busca explicar o fenômeno alemão por meio da influência da "estética nazista", da arte e da arquitetura nos planos e no ideário de Adolf Hitler. Deixa em segundo plano instrumentos mais freqüentes em leituras históricas, como a política e a economia, focaliza o nazismo como uma empreitada arquitetada para "embelezar" o mundo, livrando-o de "dejetos". Os campos de extermínio eram um instrumento de "embelezamento", diz o narrador do documentário, descrevendo o que Cohen vê como o objetivo final do genocídio de judeus, ciganos e outras minorias.
Logo no início da produção, o diretor sueco prefere percorrer caminhos diferentes da estética. Aborda aspectos da psicologia de Hitler e de outros líderes da Alemanha nazista, a fim de estabelecer um elo entre a formação deles e os critérios usados para modelar a ideologia que se baseava na busca "da beleza e da pureza raciais". "Artistas frustrados eram uma constante na liderança do Terceiro Reich", conta o documentário. Cohen alinha as trajetórias fracassadas no mundo das artes de homens como Joseph Goebbels, o rei da avassaladora máquina de propaganda nazista. De Hitler, relata: "Era um pintor que sonhava ser arquiteto". O nazismo, portanto, seria uma maneira de o artista frustrado impor seu projeto arquitetônico -a arquitetura da destruição- a todo o planeta.
O hitlerismo queria destruir tudo o que fosse "repugnante" para seus afiados valores estéticos. Padrões de beleza física encontravam raízes na Antiguidade, em gregos e em romanos, além de fisgar modelos em mitos medievais alemães. A arte nazista contrastava com o "bolchevismo cultural instigado pelos judeus". Hitler, com sua defesa da eugenia e da pureza racial, não colocava apenas sobre arquitetos e artistas o fardo de construir uma "Alemanha resplandecente". Recorria também aos médicos, a quem chamava de "guerreiros biológicos que cuidam da beleza da raça", para montar teorias racistas e aplicar monstruosos programas de eutanásia, de eliminação de portadores de deficiências físicas ou mentais e para contribuir com o esforço de "limpar o Terceiro Reich de sujeira biológica", numa referência aos judeus. Os médicos formavam, segundo Peter Cohen, a categoria profissional com maior número de adeptos do nazismo: 45% deles eram filiados.
Cohen destaca um aspecto menos conhecido do perfil psicológico de Adolf Hitler: a admiração do ditador nazista pela obra de Karl May. Escritor de livros infantis, ele foi um autor popular entre as crianças alemãs com suas histórias sobre índios e mitos de outras paragens, desconhecidos naquele mundo germânico. Hitler bebeu dessa fonte, que exaltava o heroísmo, também em sua vida adulta. "Arquitetura da Destruição" se equilibra ainda sobre a linha cronológica. Conta o desenrolar da Segunda Guerra Mundial como pano de fundo para desenvolver sua tese a respeito dos valores estéticos de Hitler e sua importância na gênese do nazismo. O documentário traz imagens pouco conhecidas da ofensiva nazista sobre território soviético, em 1941, oferece cenas de filmes de propaganda que infestavam os cinemas de Berlim nos anos 30 e 40. O filme é rico em imagens dos planos mirabolantes de Adolf Hitler no mundo da arquitetura, como a idéia de construir um megamuseu na cidade austríaca de Linz ou outros projetos faraônicos destinados a perpetuar a homenagem a uma sonhada vitória nazista. O documentário mostra maquetes e plantas, algumas rabiscadas pela mão do próprio ditador, que tinham como objetivo dar à Alemanha e ao mundo os contornos visuais do nazismo. E que de belos não tinham nada.

Bibliografia:
MAQUIAVEL. O Príncipe.
HEGEL, G.W. Cursos de Estética.
ARISTÓTELES. Poética.

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