O Cinema de Horror

Horror: Definições *


"Aqui está a verdade final sobre os filmes de horror. Eles não amam a morte, como alguns tem proposto, eles amam a vida. Eles não celebram a deformidade, mas, habitando a deformidade, cantam a saúde e a energia. Eles são os purificadores da mente, tirando não rancor, mas ansiedade" Stephen King, "Dança Macabra".

"A emoção mais forte e mais antiga do homem é o medo, e a espécie mais forte e mais antiga de medo é o medo do desconhecido. Poucos psicólogos contestarão esses fatos e a sua verdade admitida deve firmar para sempre a autenticidade e dignidade das narrações fantásticas de horror como forma literária" Howard Phillips Lovecraft, "O Horror Sobrenatural na Literatura".

Mas o que é o verdadeiro horror? Ou melhor, o que é, em qualquer caso, o horror? O que é este sentimento um tanto quanto proibido, letal, desesperador, que seduz e atrai a humanidade a séculos? Como ele se propagou através dos tempos? Como cada época tem o seu horror pessoal? O que é o horror agora? O que foi o horror antes? E como era (e foi o horror) quando surgiu o cinema?.

Desde os imemoriais tempos das cavernas o homem, seduzido pelo que não pode entender, retrata o que teme. Não eram raros os desenhos e rabiscos demonstrando o perigo das florestas e das caçadas. Trovões, relâmpagos, chuvas, erupções vulcânicas, terremotos, tufões, eclipses e toda sorte de manifestação das intempéries da natureza eram interpretados como sinais dos deuses (ou de demônios). Sinais vingativos, de aproximação do fim, punições, castigos místicos que o homem não conseguia entender. A floresta não passava de uma enorme ratoeira humana.

Lá, na escuridão, entre as folhas, os sons dos animais sibilantes e os olhos vermelhos que observavam, vivia o verdadeiro mal. A floresta era em si um organismo vivo, que, ao anoitecer, tragava os que se aventuravam em suas entranhas. Assim também era o mar, um ambiente inóspito, turvo, escuro e incerto, povoado por estranhos animais. O mar, assim como a floresta, tragava o homem para sua profundeza interminável e assustadora. A morte, o fim da vida, o incerto, a dúvida. Essa sempre foi, e será, a base do horror.

Cada momento histórico teve seus horrores. Da mesma forma que em eras medievais temeu-se a própria encarnação do demônio (se pudessemos inalar o ar medieval ao observar uma linha temporal, com certeza sentiríamos em nossas narinas o inquietante aroma de carne queimada) e iniciou-se a maior onda (e desenvolvimento de mitos e lendas) de superstições a cerca da existência de seres malignos prontos a corromper e danar a raça humana. Esses demônios acabaram sendo a projeção dos próprios medos e antagonismos, paradoxos e incongruências humanas.

A Santa Inquisição, órgão católico criado para manter a hegemonia da igreja, espalha o terror com suas torturas e mortes. Acontecimentos e fatos históricos permeados pelo macabro não são novidade na história da humanidade. Mesmo contos infantis como os dos irmãos Grimm, Han Christian Andersen e outros continham lições mórbidas. Os irmãos Hansel e Gretel são deixados a mercê de uma bruxa canibal. Chapéuzinho Vermelho é molestada pelo primeiro lobo que se disfarça como um homem. Nossa cultura sempre esteve permeada pelo macabro.

O medo do novo, das novas teorias, dos cientistas, das descobertas, da possibilidade de estarem errados, levas esses clérigos medievais, bem posicionados socialmente, acomodados e satisfeitos com sua situação dominante a um sentimento de... Horror. O Horror é o que ainda não conseguimos explicar, o horror é aquilo que não entendemos, o horror é o que não conhecemos, é o que nos ataca, nos altera, nos mata, e deixa a nós acuados, sem saber o que fazer. O Horror é o que nos domina, sem que possamos fazer nada. Mas junto do misterioso, do fantástico, do sobrenatural, do aterrorizante, sempre há uma ligação, uma atração ao misterioso, pelo desconhecido, pelo inexplicável.

O cinema, por sua vez, sempre tentou retratar o horror, e a maneira que este nos atinge. Iniciando seu processo de exploração do indizível e desconhecido no horror gótico do século XIX (Drácula, Poe, Lovecraft, Carmilla, W.W. Jacobs, Maupassant, Bierce, etc) e chegando até o horror Cyberpunk dos anos noventa (Alien, Predador, Resident Evil), uma coisa foi constante na película: Medo.

Vamos explorar o início do Horror nos filmes, suas causas, suas conseqüências, sua importância.
Venha, pegue na minha mão, está escuro mas você não deve ter medo. Eu vou lhe mostrar o verdadeiro horror...

Princípios

Poucos contestarão a idéia de que o medo e o terror são estados ideais a serem retratados pelo cinema. Que outra mídia poderia captar os sons, as imagens, os climas e situações que compõe o genuíno terror de maneira mais fidedigna? O espectador senta-se em silêncio numa sala escura.

Há um certo desligamento de consciência, um desprendimento, uma disposição a aceitação a fantasia. Neste estado de relaxamento, nosso subconsciente toma um pouco do controle, a espécie de "torpor" que o cinema nos leva propicia uma pequena janela, pela qual nossa irracionalidade pode tomar, mesmo que apenas um pouco, o controle.

Essas fantasias, aparentemente sem significado, passam a ser o nosso primeiro plano de percepção dentro da sala escura. O "censor" que age sobre o nosso subconsciente está adormecido, e nossos desejos, medos e anseios tem um acesso maior a nossa mente. De maneira geral, o cinema fantástico é visto como um entretenimento, algo superficial, um gênero de pouca importância, puro escapismo.

Mas devemos perceber que se estamos escapando de algum lugar (de nossa realidade cotidiana) também estamos escapando para algum lugar, para nossos edos. Logo podemos ver, então, que o horror, assim como todo gênero fantástico, não é apenas "escapismo". O horror sempre retratou os medos, o proibido, o tabu de sua respectiva época, e se ele tem algum valor social que o redime de sua característica "escapista", com certeza ele consiste em sua habilidade de captar e reproduzir a patologia de seu tempo.

Desde cedo, portanto, passamos a ter manifestações do que era até então um rico gênero literário concretizadas na tela. O conceito vigente de horror em meados do século passado (XIX), quando os primeiros experimentos com sais de prata foram realizados, levando a descoberta da fotografia, e o aperfeiçoamento das técnicas de captação de imagem até o surgimento do cinema, era, naturalmente, o horror gótico.

Analisemos pois, brevemente, esta tão cultuada vertente.

O Horror Gótico

O termo "gótico" foi aplicado a este tipo de horror muito depois que sua importância se deu em matéria de produção constante. Trata-se do horror com "classe", "chique" , "estiloso" o antigo horror europeu, de cadeiras de couro, cortinas de veludo e mortes com pouco sangue. O Horror gótico, de maneira geral, centra-se em cenários típicos da Europa medieval: Castelos, afastadas mansões mal-assombradas, pequenos vilarejos no interior da Europa. Homens de cartolas e fraques, damas de longos vestidos e cabelos bem arrumados, velas com sua luz amarelada, afastando (mas não muito) a escuridão, carruagens, longas capas negras, teatros mal-assombrados, seqüestros, lutas de espada, festas a fantasia com máscaras aterrorizantes, fantasmas nos esgotos de Paris, assassinatos misteriosos e corvos negros que repetem "nunca mais" e sempre um pequeno filete de sangue rubro compõe o clima desse tipo de Horror. Temos como obra literária marcante do horror gótico (pouco antes da invenção do cinema) o conhecido Drácula, de Bram Stoker, que estabeleceu o padrão (mais tarde estereotipado) do gênero. Os escritos do americano Ambroise Bierce (desaparecido após ir para a guerra no México, no inicio do século vinte. Curiosamente, Bierce tem inúmeras histórias de horror que lidam com desaparecimentos) Edgar Alan Poe, Guy De Maupassant, Arthur Conan Doyle, Mary Shelley, Robert Louis Stevenson, Anatole France, M. G. Lewis, Charles Maturin e muitos outros deram a base para o surgimento dos primeiros fotogramas de terror.

Surge o Cinema de Horror

De certa forma, a primeira exibição pública feita pelos irmãos Lumiére teve o efeito de um filme de terror. Quando "A chegada do trem a estação" foi exibido, causou-se frenesi e inquietação entre os presentes, pois muitos chegaram a proteger-se do trem, que parecia poder romper a tela e invadir o recinto. Esse elemento chocante sempre esteve presente no cinema, a função de supresa, de quebra com o tradicional, de emulação da realidade (com intensificação da catarse e da participação do público em seus momentos agradáveis... e no caso do horror, nos desagradáveis) é parte da própria definição de o que deve ser o cinema.
O primeiro filme de horror propriamente dito, é provavelmente "The Devil's Castle", de George Mélies, onde o demônio é representado (de maneira um tanto o quanto cômica) por um morcego. Mélies, um mágico e dono do Teatro Robert-Houdin em Paris, entrou em contato com o cinema logo na primeira exibição pública feita pelos irmãos Lumiére, em 28 de Dezembro de 1895. Em fevereiro do ano seguinte ele adquiriu sua primeira câmera, e começou a fazer seus filmes em Maio do mesmo ano.

A tecnologia no cinema estava sendo apenas desenvolvida, e Mélies inventou e estudou inúmeros mecanismos para criar os mais diversos efeitos. Seus estudos de múltipla exposição do filme são conhecidos (criavam o efeito de se ver objetos e pessoas aparecendo e desaparecendo a distanciam ou mudando de forma). Mélies foi o primeiro cineasta a tocar de maneira séria no cinema fantástico, e, com seus projetos e engenhos, conseguir resultados e efeitos interessantes.

Sua abordagem dos mitos do monstro do pólo norte, vampiros, viagens espaciais e outras ficções improváveis permanecem como o exemplo clássico do tradicional cinema ousado e estabeleceram, a época, o conceito de "efeitos especiais". Entretanto, ele era muito mais um mágico que um cineasta em si, e com o paralelo desenvolvimento da narrativa cinematográfica por outros cineastas e a falta de uma política capitalisadora por parte de seu estúdio, Mélies tornou-se, lentamente, obsoleto diante de cineastas como Murnau, Edwin S. Porter e David W. Griffith, que investiram pesado na narrativa e montagem . Ele terminou seus dias (após ter sua produtora falida, em 1913) vendendo pequenos brinquedos e jogos de mágica em banquinhas nas ruas de Paris, vindo a morrer em 1938.

Entretanto, essas primeiras experiências de Mélies eram vagamente cômicas, onde o ponto principal era entreter com os efeitos e maquinarias inventadas para realizar seus filmes (cenários gigantescos, luas com rostos, foguetes voadores e etc.). Foi só com o passar do tempo que o terror pode amadurecer e alongar-se, sofisticando o gênero e dando-o mais espaço. Com o tempo, novas obras começaram a surgir, tanto nos EUA como na Europa. Em 1910, Edison faz a primeira versão cinematográfica de Frankestein, (muito inspirada nas inúmeras adaptações teatrais da época). Em Frankenstein temos um tema agregado ao próprio conceito de cinema: O Dr. Frankestein, obcecado com a idéia de manipular o poder sobre a vida, constrói um experimento que o levará a sua ruína.

O cinema também era um experimento tecnológico, o final do século XIX, com seu impressionante e vertiginoso avanço (alavancado pela revolução industrial, seguido do desenvolvimento de máquinas mais potentes, motores a explosão, etc) impressiona e assusta as pessoas que não estão preparadas para lidar com as consequências éticas e morais dessas novas descobertas. Recentemente, também vivemos uma situação análoga e semelhante.

Com o desenvolvimento da engenharia de gens, ganhamos o poder de manipular o mapa genético do ser humano, o DNA está a nossa mercê, para que possamos criar quantos "transgênicos" quisermos. Assim como o Dr. Frankenstein, temos a oportunidade de "brincar de Deus" em nossas mãos, de manipular a vida, e a forma como ela virá a ser. Ao monstro a vida é dada, mas ele não passa de um tubo de ensaio, um experimento bem-sucedido do Dr. Frankestein. Um experimento que sente, sofre e chora, e se vinga de seu criador por esquecer disso.

O horror é visionário, e é o conto de terror que capturou de maneira consistente e expressou nossos medos e ansiedades coletivas. Filmes como Frankenstein mostram que, muitas vezes, o inimigo vem de dentro, e não do desconhecido. Essa é uma crítica a prepotência e arrogância do auto centrismo (característica tanto de pessoas como de organizações ou nações) que não admite questionamento ou reavaliação.

Um dos pontos marcantes do cinema de horror é o clássico "O Gabinete do Dr.Caligári", de Robert Wiene. Supostamente Wiene não teria passado de um diretor contratado (Fritz Lang, que mais tarde faria, no gênero horror, o imortal "M - O vampiro de Dusseldorff" deveria ter dirigido o filme, mas não pode devido a obrigações previamente assumidas). "Caligári" expõe o mais latente e forte horror da primeira metade de nosso século. Mas uma vez, o horror que vem de dentro, o horror que está entre nós, o horror da mente.

Com os desenvolvimentos da pesquisa psicanalítica e a publicação dos primeiros trabalhos de Jung e Freud, abre-se um novo campo de estudos na ciência humana: o subconsciente. Mas o que é esse subconsciente? O que é este suposto "inimigo" que mora dentro de nós mesmos e, pasmem, pode controlar nossas ações? Estas questões, e muitas outras, são levantadas.

Doenças de evidente origem mental como histeria e esquizofrenia agora são mostradas como resultados de distúrbios do cérebro, e não mais possessão por espíritos ou outras interpretações mitológicas. Mas isso levanta uma série de medos, pois se temos um subconsciente, temos uma parte de nossa psique que não está sob nosso controle, a mente é o nosso medo.
Caligári então se passa em um asilo, onde dois internos conversam. Toda a perspectiva do filme é irregular e inconstante. Os artistas contratados para pintar os cenários (membros do grupo avant-garde Der Sturm), fizeram jus ao mais sóbrio estilo expressionista alemão. As próprias paredes curvas e suas perspectivas incongruentes nos levam a uma comparação com o caos e a insanidade interior.

Cada curva é um distúrbio mental, cada sombra, cada cenário irregular é uma alegoria as neuroses psíquicas de nossa mente. A história de um interno de asilo que, conta sua narrativa através de sua visão distorcida e fragmentada do mundo, tecendo uma bizarra trama sobre um sonâmbulo e seu mestre maligno, impressionou muitos. O medo, em Caligári, vem do advento da psicanálise, vem dessa estranha descoberta de que nosso inimigo pode estar dentro de nós mesmos, de que somos controlados por algo que mora dentro de nós e se chama subconsciente, e a situação de imponência a qual essa constatação leva. O que aterroriza o homem do início do século vinte é a constatação de que ele não tem dominio total sobre sua mente. O Dr. Caligári pode ser visto como uma metáfora de nosso inconsciente em ação nos dizendo o que realmente queremos fazer, e obrigando-nos a faze-lo (assim como Cesare simplesmente TEM que obedecer aos comandos de Caligári, não há escolha).

A Europa havia acabado de passar pela traumática experiência da primeira guerra mundial, e a Alemanha, particularmente sofrida no evento (e retalhada pelas nações vencedoras) passava pela época mais terrível desde a sua unificação. Podemos também ver no filme uma crítica a essa guerra, onde há a sugestão que as autoridades era criminosos insanos, que exigiam que milhares de assassinatos fossem cometidos por soldados cegamente obedientes. Ao mesmo tempo, o filme quebra com o realismo e naturalismo vigentes no cinema até então (exceção feita a Mélies), com o cinema transcendendo o realismo fotográfico e ousando com imagens abstratas e irreais da arte moderna. Esse tipo de cinema, de certa forma, continua pouco explorado até hoje. Conrad Veidt ficou assutador como Cesare, com sua fantasmagórica maquiagem branca e roupa preta. Wiene fez um excelente trabalho, apesar de nunca mais conseguir obter o mesmo sucesso. Caligári é um marco do cinema, e um dos pilares do horror psicológico.

O expressionismo alemão rendeu excelentes frutos ao cinema de horror. Filmes como "Der Golem" onde um Gólem (especie de gárgula) de pedra ganha vida e sai cometendo crimes, ou "O estudante de Praga", história onde um jovem estudante faz um pacto faustiano com um mago (uma encarnação, ou variação do demônio?) em troca da boa e velha fama e fortuna, apenas para mais tarde ter sua alma cobrada.

Nos anos vinte já temos adaptações do clássicos como "O Corcunda de Notre-Dame", "Dr.Jeckyll e Mr.Hyde", "O Cão dos Baskervilles". Os anos vinte traçam a definição do gênero horror em duas vertentes: a americana e a européia. Nos EUA, o horror tinha um aspecto mais entretedor, enquanto que na Europa sua sutileza era usada para que fossem passadas mensagens mais comlplexas. Até Griffith fez filmes de horror, como "One Exciting Night," 1922, onde temos a exploração de uma casa mal-assombrada. Em Jeckyll e Hyde, produzido por Zukor (mais tarde dono da FOX) em 1920, podemos novamente ver o tema da psicanálise abordado através da investigação da dupla personalidade. O Doutor Henry Jekyll separa a o bem e o mal em sua personalidade, com um misteriosos experimento químico, criando assim a personalidade de um monstro.

Em 1921, temos o lançamento de Nosferatu, de Murnau, o primeiro dos grandes filmes de Vampiro. Sendo uma adaptação não-oficial de Drácula, de Bram Stoker, Nosferatu causou grande polemica ao ser lançado nos cinemas. Logo processado pela família de Stoker, um juíz inglês ordenou que todas as cópias do filme fossem destruídas. Felizmente a maior parte das cópias alemãs sobreviveu, deixando o legado que prova sua reputação como um dos maiores feitos cinematográficos da história. Toda a sexualidade reprimida do início do século está presente em Nosferatu. Seu desejo por sangue chega a ser sexual, o frenesi que o vampiro atinge após dar sua mordida pode ser entendido como o ápice de sua excitação sexual. Como ele se alimenta de sangue, não importando muito de aonde vem, temos ainda o seu lado andrógino e de sexualidade não definida, o vampiro alimenta-se tanto de homens como de mulheres, com igual apetite. Sua libido esta diretamente conectada com a mordida, e mesmo quem é mordido também passa por um momento de catarse, aceitação e prazer. Não resistir a violência e na verdade, de forma masoquista, deleitar-se com ela. O conceito de vampiro é sensual, o seu elemento, a noite, é um ambiente sexual. Muitos chegam ao exagero de dizer que Max Schreck, com sua pesada maquiagem, careca, levantando-se de seu caixão na transilvania absolutamente ereto representaria em si uma ereção.

Além do pesado terror Europeu, tivemos o surgimento da escola americana de terror do entretenimento. Filmes com o ator Lon Chaney (ou o homem de mil faces) como o "Fantasma da ópera, 1924" e "O Corcunda de Notre-Dame" (1923), "The magician", (1926). E "London after midnight" (1927). Estes filmes pavimentaram o caminho para a escola de horror do estúdio Universal, que iria seguir. Um horror mais leve, despretensioso e divertido, acessível ao público médio e assistível pela tradicional família americana. Filmes como "Bride of Frankestein", "Frankestein meets the Wolf Man", "The Mummy" (recentemente refilmado e estrondoso sucesso de bilheteria) , "I walked with a Zombie", (1943) e etc. que não lidavam com temas muito contestadores ou ousados, mas sim repetiam uma fórmula segura de sucesso. Marcaram as décadas de trinta e quarenta. Assim, surgiram atores e grandes nomes como Boris Karloff (que fez o imortal e estereotipado Frankestein de James Whale) e Bela Lugosi, o eterno Drácula da versão clássica (a primeira cinematográfica oficial) de Todd Browning, outro mestre do macabro.

Ainda no tema vampiros, temos o excelente "Vampyr" (1931), de Carl Theodore Dreyer, sendo a história de um jovem chamado David Gray que se envolve com duas irmãs, Leone, que aparenta estar morrendo de alguma doença misteriosa, e Gisele, que parece estar sendo mantida presa.
Estranhos acontecimentos envolvem o trio, quando Gray se da conta que elas estão sob o domínio de alguma estranha força. O filme é estranhamento contrastado, uma espécie de chiaroscuro, e novamente temos constante referências a sonhos e o inconsciente. David Gray, em certa cena, chega a sonhar com o seu próprio funeral, e nós espectadores podemos ver o mundo a partir de sua perspectiva enevoada dentro do caixão. Muitas outras sequências seguem essa linha abstrata e irregular de narrativa (aparentemente desconexas, existem diversas cenas que quebram o fio narrativo, como um sabá de bruxas, a visão curiosa de um homem de uma perna só e sua sombra, etc.) Novamente lidando com temas psicanalíticos em voga na época: sonhos reprimidos e desejos.

Em 1932 Todd Browning, o genial mestre do horror por trás de várias parcerias com o enigmático Lon Chaney e o Drácula de Lugosi, faz outro filme espetacular: "Freaks". Trata-se de uma colisão terrível da normalidade com a anormalidade. Em um circo, Baclanova, uma artista de trapézio, casa-se com um Anão, devido a sua riqueza, planejando envenena-lo com a ajuda de seu amante, o levantador de pesos Vitor. O anão faz parte da segregada seleção de anomalias do circo: a mulher barbada, gêmeos siameses, um hidrocéfalo, um homem completamente amputado que podia apenas usar a sua boca, uma mulher com o crânio subdesenvolvido. Enfim, os deformados, a seção de horrores do circo. Logo, entretanto, eles descobrem o plano de Baclanova, e mutilam-a com facas, numa dantesca cena de horror, lentamente transformando ela mesma (a mais bela das mulheres do circo) em uma aberração. O filme causou polêmica quando lançado (Browning usou aberrações, ou pessoas realmente deformadas) e foi proibido na Inglaterra por trinta anos. Browning apresenta uma visão humanista do mundo, usando o tradicional "julgar pelas aparências" como seu tema central. As aberrações são vistas como inocentes, vítimas de uma sociedade que não as tolera e as separa como um câncer. Nossa repulsa inicial torna-se lentamente, compreensão.

Na década de cinqüenta, após o fim da Segunda Guerra mundial, há o surgimento de um novo tipo de horror, e o terror gótico é levado ao esquecimento, nunca tendo ressurgido completamente (os livros e filme da escritora Anne Rice, "Entrevista com Vampiro" e suas seqüências são exceção). Com o uso das primeira bombas atômicas em seres humanos, temos um novo terror a ser explorado: monstros e mutações causadas pela radiação. Os Vampiros, Gólems, Sonâmbulos, Castelos mal assombrados e Demônios do passado são substituidos pelo medo da radiação, da ciência descontrolada, da tecnologia, fora de nosso domínio, imprevisível. Mas como justificou o diretor Dreyer, "quero criar um pesadelo acordado, e mostrar que o horrível não esta ao redor de nós mas em nossa própria mente inconsciente". Nosso medo dos cientistas loucos, vampiros, lobisomens e monstros não passa de medo de nós mesmos, da imprevisível mente humana.

Referências

Sites
Inúmeros Websites e resenhas de filmes de horror na internet. Alguns dos mais relevantes seriam:

- Site com muitos links, artigos, resenhas, histórias, sons e imagens ligadas ao cinema de horror
- Outro excelente site com muita informação no cinema de horror.
- Site com centenas de resenhas e links para os mais variados filmes (provavelmente o mais completo da Web, com links interessantes e boas resenhas dos clássicos de horror)
- Mais um site com inúmeros links e textos sobre a arte e o horror (pintura, escultura, filmes, literatura, música, teatro, etc)
- Ghoul Brittania, especializado em filmes de horror feitos no reino unido, desde o século passado até hoje.

Revistas

Filmfax - Excelente publicação norte-americana sobre o cinema de horror, especializada em clássicos e filmes B.
Fangoria - Tradicional revista norte americana, publicada desde o fim da décade de setenta. Cobre o cinema de horror mais comercial.
Psico Video - Publicação nacional que, infelizmente, durou apenas dois números. Muito bem escrita, com artigos relevantes ao tema e bem pesquisados, fez matérias profundas sobre o tema. Editora Nova Sampa, 1995.
Chiller Theatre - Mais uma revista (com aspecto de fanzine) norte americana. Belas fotos em cerca de 100 páginas a cada número. Chiller Theater inc.

Livros

The Rise & Fall of the Horror Film - Excelente livro do Dr. David Soren. Ligeiramente datado (foi originalmente publicado em 1977) mas com uma pesquisa muito interessante, comparando o gênero horror com a estética Dada, assim como o surrealismo e o simbolismo.

Dança Macabra / (Dance Macabre, 1981, Editora Francisco Alves) - Livro do escritor Stephen King onde ele explora toda a influência do horror americano na sociedade, traçando um verdadeiro ensaio sobre a cultura "horrorísta" norte-americana e seu horror na literatura e cinema.

O Horror Sobrenatural na Literatura (Supernatural Horror in Literature, Francisco Alves, 1987. Originalmente escrito e publicado em 1927, tendo sua edição atual publicada em 1945) - Livro escrito pelo mestre do horror "indizível", Howard Phillips Lovecraft. Uma das primeiras análises da literatura de horror mundial, este pequeno ensaio é um marco no que tange ao uso de uma abordagem sóbria e abrangente. Lovecraft entra em detalhes, falando desde desconhecidos autores do século VIII até finalmente discorrer sobre seu grande mestre, e, seguido de Lovecraft, provavelmente o maior escritor do sobrenatural americano, Edgar Alan Poe.

The Overlook Film Encyclopedia - Horror. Overlook Press, 1992 editado por Phil Hardy. - Maciça coleção de dados sobre todos os tipos de filme de horror, desde o século passado, incluindo países pouco comuns no gênero como o Brasil (Zé do Caixão tem destaque em várias resenhas).
Legendary Horror Films. Metrobooks, 1995 Peter Guttmacher - Belo livro ilustrado retratando o cinema de horror desde suas origens.

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