CIDADE DOS SONHOS (Mulholland Drive)
O QUE SE PASSOU...
Diane Selwyn (a já definitiva atriz inglesa da atualidade Naomi Watts) é uma atriz que perdeu o teste para protagonista de um importante filme hollywoodiano para sua amiga Camila Rodhes (a estreante e estonteante Laura Elena Harring). Esta última, tornando-se uma estrela, passa a conseguir pontas em seus filmes para a amiga Diane que, tudo indica, apaixona-se perdidamente por Camila nutrindo pela mesma um misto mórbido de amor e inveja.
Diane assiste as gravações do atual filme estrelado por Camila e percebe que há um envolvimento entre a mesma e o diretor.
Camila convida Diane para uma festa na casa do diretor. Para tanto, manda uma limousine pegá-la em casa. Para surpresa de Diane, a limousine estaciona numa curva da Mulholland Dr, antes de chegar ao seu destino e, da beira da estrada, surge Camila que a convida a sair do carro e acompanhá-la para a festa através de um atalho. Durante a festa, Camila e seu diretor anunciam apaixonadamente seus planos de casamento para profundo desgosto de Diane que já estava se sentindo humilhada diante da mãe do diretor que senta à sua frente e lhe enche de perguntas. Nessa conversa, Diane comenta que tinha uma tia em Hollywood, já falecida, que trabalhava na “área do cinema”. Nota-se, nessa festa, a presença de pessoas que se tornarão personagens do sonho de Diane (a mãe do diretor, uma moça que fala algo ao ouvido de Camila e que Diane imagina as duas se beijando, um homem com chapéu de Cowboy, entre outros personagens).
Diane contrata um assassino de aluguel para matar Camila e o contrato é feito numa lanchonete onde o assassino lhe diz que quando o serviço estiver consumado ela, Diane, encontrará uma chave azul que ele lhe mostra em seu chaveiro (aí na lanchonete também aparecem elementos que serão utilizados no sonho como por exemplo o crachá da garçonete escrito “Bety” que será o nome onírico de Diane, além da própria garçonete, da lanchonete e de 2 homens que ela vê transitando na mesma). Ao sair da lanchonete, pelos fundos da mesma, Diane se depara com um mendigo que manipula uma pequena caixa de madeira azul (tanto o mendigo quanto a caixa aparecerão em seu sonho).
O SONHO PRINCIPAL...
O sonho principal é formado por dois afluentes que dizem respeito aos movimentos das duas protagonistas. Tais movimentos se encontram e se entrecruzam.
1º - Uma moça anônima (personificada na imagem de Camila) encontra-se no banco de trás de uma limousine que é conduzida através da Mulholland Dr. O carro pára numa curva e os 2 sujeitos que estão na frente voltam-se para trás e apontam uma arma para a garota, ao que tudo indica, para assassiná-la. Neste instante, um carro em intensa velocidade, cheio de jovens em farra, vem descendo a rua na direção contrária e choca-se violentamente contra a limousine. Os 2 sujeitos morrem e a garota sobrevive, seguindo cambaleante até a cidade (Hollywood). Chegando lá, depara-se com um pequeno condomínio onde mora uma senhora que, nesse momento, está fechando a casa para viajar. Enquanto a senhora transita entre o carro e a casa, conduzindo as malas, a garota entra furtivamente na casa e esconde-se, adormecendo sob a mesa – neste momento ela tem 2 sonhos.
Diane assiste as gravações do atual filme estrelado por Camila e percebe que há um envolvimento entre a mesma e o diretor.
Camila convida Diane para uma festa na casa do diretor. Para tanto, manda uma limousine pegá-la em casa. Para surpresa de Diane, a limousine estaciona numa curva da Mulholland Dr, antes de chegar ao seu destino e, da beira da estrada, surge Camila que a convida a sair do carro e acompanhá-la para a festa através de um atalho. Durante a festa, Camila e seu diretor anunciam apaixonadamente seus planos de casamento para profundo desgosto de Diane que já estava se sentindo humilhada diante da mãe do diretor que senta à sua frente e lhe enche de perguntas. Nessa conversa, Diane comenta que tinha uma tia em Hollywood, já falecida, que trabalhava na “área do cinema”. Nota-se, nessa festa, a presença de pessoas que se tornarão personagens do sonho de Diane (a mãe do diretor, uma moça que fala algo ao ouvido de Camila e que Diane imagina as duas se beijando, um homem com chapéu de Cowboy, entre outros personagens).
Diane contrata um assassino de aluguel para matar Camila e o contrato é feito numa lanchonete onde o assassino lhe diz que quando o serviço estiver consumado ela, Diane, encontrará uma chave azul que ele lhe mostra em seu chaveiro (aí na lanchonete também aparecem elementos que serão utilizados no sonho como por exemplo o crachá da garçonete escrito “Bety” que será o nome onírico de Diane, além da própria garçonete, da lanchonete e de 2 homens que ela vê transitando na mesma). Ao sair da lanchonete, pelos fundos da mesma, Diane se depara com um mendigo que manipula uma pequena caixa de madeira azul (tanto o mendigo quanto a caixa aparecerão em seu sonho).
O SONHO PRINCIPAL...
O sonho principal é formado por dois afluentes que dizem respeito aos movimentos das duas protagonistas. Tais movimentos se encontram e se entrecruzam.
1º - Uma moça anônima (personificada na imagem de Camila) encontra-se no banco de trás de uma limousine que é conduzida através da Mulholland Dr. O carro pára numa curva e os 2 sujeitos que estão na frente voltam-se para trás e apontam uma arma para a garota, ao que tudo indica, para assassiná-la. Neste instante, um carro em intensa velocidade, cheio de jovens em farra, vem descendo a rua na direção contrária e choca-se violentamente contra a limousine. Os 2 sujeitos morrem e a garota sobrevive, seguindo cambaleante até a cidade (Hollywood). Chegando lá, depara-se com um pequeno condomínio onde mora uma senhora que, nesse momento, está fechando a casa para viajar. Enquanto a senhora transita entre o carro e a casa, conduzindo as malas, a garota entra furtivamente na casa e esconde-se, adormecendo sob a mesa – neste momento ela tem 2 sonhos.
PRIMEIRO SONHO DO SONHO: Dois sujeitos numa das mesas de uma lanchonete (a mesma lanchonete e mesa onde Diane contratou o matador – os dois sujeitos, desse sonho, tinham sido vistos por ela na referida lanchonete). Eles conversam e um deles, com face apavorada, conta que tem um sonho repetitivo que se passa exatamente naquele lugar. Diz que nos fundos dali há um homem que sabe de tudo (ou coisa assim) e que ele morre de medo de encontrar o tal homem. O outro que ouve diz, meio impaciente, que então ele tinha vindo ali para isso, o que o deixa em pânico, mas, a partir do incentivo do amigo, eles seguem para os fundos da lanchonete. Numa curva, o contador do sonho depara-se subitamente com o rosto em close de um sinistro mendigo e cai instantaneamente morto no chão.
SEGUNDO SONHO DO SONHO: Uma série de articulações mafiosas obrigam um diretor de cinema Adam Kesher (o mesmo que, na vida real, dirige o filme de Camila) a escolher uma determinada atriz protegida da máfia para o papel principal de seu filme. Isso o deixa altamente revoltado. Em seguida, ele vai se deparando com uma série de perseguições, coações e perdas (entre elas a perda da própria mulher para o limpador de piscinas – conteúdo onírico este retirado de uma conversa do próprio diretor durante a festa onde ele diz, em tom de anedota, que na separação com a esposa ela teria ficado com o limpador de piscinas). Finalmente ele é convencido, por uma figura muito estranha, um cowboy (novamente resquícios diurnos), numa cena memorável de interpretação e humor refinado do excelente Justin Theroux.
2º - Bety (Diane), vinda do Canadá, chega em Hollywood para um teste de atriz de cinema conseguido por sua tia, supostamente alguém com alguma influência no meio. Sua chegada, acompanhada de um casal de velhinhos, sugere que ela travou contato com os mesmos durante o vôo e estes desejam-lhe boa sorte ao se despedirem dela no aeroporto, mas estranhamente exibem um sorriso sinistro depois que a deixam. Bety chega ao condomínio da casa de sua tia (que, na verdade, é uma réplica bastante sofisticada do seu próprio condomínio) e é recebida por Coco, (personificada pela mãe do diretor que estava na festa) a senhoria que lhe mostra a casa da tia e lhe entrega as chaves. Bety entra e fica maravilhada com a casa (na verdade, com uma decoração completamente hitchcockiana, aliás, o figurino e o penteado de Bety são também indisfarçavelmente hitichokianos). Então, encontra a moça do acidente nua no banheiro e leva um susto. Aí há uma seqüência de cenas onde a moça, que encontra-se completamente amnésica, resolve assumir o nome de Rita (inspirada por uma atriz – Rita Hayworth – num cartaz na parede do banheiro) e elas estabelecem uma rápida cumplicidade que dribla as desconfianças de Coco. Bety ajuda Rita a deitar-se na cama após o banho e esta volta a sonhar:
TERCEIRO SONHO DO SONHO: Dois rapazes conversam numa espécie de escritório. Um deles (personificado pelo assassino de aluguel) quer obter um livrinho preto e mata o outro para isso. Ao tentar simular a cena de um suicídio, colocando a arma na mão do morto, ocorre um estúpido acidente onde o gatilho dispara e atinge uma mulher que estava na sala ao lado. Aí é uma seqüência de desastres onde ele acaba matando a mulher e o zelador do prédio culminando em disparar o alarme do edifício e ele tendo que fugir pela escada de incêndio. Em seguida, ele aparece procurando por uma moça morena – tudo indica que seja a moça do acidente desaparecida (Rita).
Bety resolve ajudar Rita a recuperar sua memória e começa todo um processo de investigação das duas acerca de um suposto acidente ocorrido na Mulholland Dr., pois este é o único nome que Rita recorda ter visto numa placa. Elas esvaziam a bolsa de Rita na procura de identificação e só encontram vários pacotes de cédulas (outra alusão aos filmes de Hitchcock) e uma pequena caixa quadrada azul (a mesma que Diane tinha visto com o mendigo). Em seguida, Bety e Rita vão à rua e confirmam que houve o tal acidente. Depois, as duas já estão numa lanchonete (a mesma de sempre) onde a garçonete (a que serviu Diane e o assassino de aluguel) agora exibe um outro nome no crachá: Diane. Neste instante, Rita recorda outro nome: Diane Selwyn. Elas procuram na lista telefônica e localizam o nome, mas, ao ligarem, entra um recado de secretária eletrônica numa voz feminina desconhecida. Interessante notar aqui que quando Bety vai fazer a ligação ela diz: “é estranho ligar para si-mesma!” Estabelece-se daí em diante uma animada amizade entre elas e Rita ajuda Bety a decorar seu texto para o teste de atriz que ela terá no dia seguinte. Bety faz seu teste (esse é o primeiro clímax do sonho onde Diane exibe todo o seu imaginado talento). Na seqüência, Bety é levada a um setting de filmagem onde assiste a um teste para a protagonista do filme do tal diretor que parece ser o grande nome de direção em Hollywood naquele momento (nesse momento, ocorre uma curiosa interpenetração do sonho principal com o “segundo sonho do sonho”, ou seja, um cruzamento entre o sonho de Diane e o sonho de Rita no próprio sonho de Diane e o ponto de intersecção é justamente a figura do diretor). O diretor então é obrigado a escolher uma atriz indicada pela máfia chamada Camila Rodhes (personificada pela moça que Diane julgou ter beijado sensualmente Camila na festa). Nesta cena, há um instante em que os olhares de Bety e do diretor se cruzam sugerindo um amor à primeira vista entre os dois.
As duas agora amigas seguem a pista do endereço de Diane Selwyn encontrado na lista telefônica e chegam até o condomínio onde supostamente mora a pessoa de nome Diane (que, nesse momento, elas desconfiam tratar-se da verdadeira identidade de Rita). Na seqüência de cenas, envolvendo uma vizinha de Diane que havia trocado de casa com a mesma, as duas investigadoras deparam-se com uma moça loira morta na cama com um tiro na boca (na verdade, a própria Diane, em sua própria casa e em seu próprio quarto). Esse é o segundo clímax do filme. As duas saem apavoradas e voltam para a casa da tia de Bety.
Bety providencia para Rita uma hitchcockiana peruca loira a título de disfarce e, à noite, acaba acontecendo uma quente cena erótica de cama entre as duas que parecem completamente apaixonadas uma pela outra (o terceiro clímax). Às 2:00 da madruga, Rita acorda de uma espécie de sonho ou transe e pede a Bety para acompanhá-la a uma feliniana casa de espetáculos chamada “Silêncio”. As duas saem no meio da noite em busca da tal referência. Encontram, entram, sentam e começa o espetáculo onde o mestre de cerimônias diz todo o tempo que “não há orquestra” enquanto são exibidos números musicais onde o público pensa que o instrumento ou a voz estão soando, mas na verdade são uma espécie de dublagem o tempo todo (cabe ressaltar aqui o impressionante – mas falso – número vocal de uma surrealista diva chamada Rebeca Del Rio, o quarto clímax do filme). Bety fica apavorada e profundamente emocionada durante o show, parece que, a partir desse momento do sonho, algo sinistro começa a ser finalmente lembrado – talvez a sua verdadeira identidade (Diane) e a sua ação homicida. Ao terminar o espetáculo, elas encontram uma bolsa sobre a poltrona vizinha de onde estavam sentadas. Dentro da bolsa, uma chave azul. Retornam rapidamente para casa e, ao chegar na cena do quarto, a figura de Bety estranhamente desaparece e Rita, apavorada, pega a caixa azul abrindo-a com a chave encontrada no teatro. O sonho assim termina e Diane acorda em sua cama sob o insistente som da campanhia (a mesma cama onde, no sonho, a moça loira desfigurada encontrava-se morta).
Bety resolve ajudar Rita a recuperar sua memória e começa todo um processo de investigação das duas acerca de um suposto acidente ocorrido na Mulholland Dr., pois este é o único nome que Rita recorda ter visto numa placa. Elas esvaziam a bolsa de Rita na procura de identificação e só encontram vários pacotes de cédulas (outra alusão aos filmes de Hitchcock) e uma pequena caixa quadrada azul (a mesma que Diane tinha visto com o mendigo). Em seguida, Bety e Rita vão à rua e confirmam que houve o tal acidente. Depois, as duas já estão numa lanchonete (a mesma de sempre) onde a garçonete (a que serviu Diane e o assassino de aluguel) agora exibe um outro nome no crachá: Diane. Neste instante, Rita recorda outro nome: Diane Selwyn. Elas procuram na lista telefônica e localizam o nome, mas, ao ligarem, entra um recado de secretária eletrônica numa voz feminina desconhecida. Interessante notar aqui que quando Bety vai fazer a ligação ela diz: “é estranho ligar para si-mesma!” Estabelece-se daí em diante uma animada amizade entre elas e Rita ajuda Bety a decorar seu texto para o teste de atriz que ela terá no dia seguinte. Bety faz seu teste (esse é o primeiro clímax do sonho onde Diane exibe todo o seu imaginado talento). Na seqüência, Bety é levada a um setting de filmagem onde assiste a um teste para a protagonista do filme do tal diretor que parece ser o grande nome de direção em Hollywood naquele momento (nesse momento, ocorre uma curiosa interpenetração do sonho principal com o “segundo sonho do sonho”, ou seja, um cruzamento entre o sonho de Diane e o sonho de Rita no próprio sonho de Diane e o ponto de intersecção é justamente a figura do diretor). O diretor então é obrigado a escolher uma atriz indicada pela máfia chamada Camila Rodhes (personificada pela moça que Diane julgou ter beijado sensualmente Camila na festa). Nesta cena, há um instante em que os olhares de Bety e do diretor se cruzam sugerindo um amor à primeira vista entre os dois.
As duas agora amigas seguem a pista do endereço de Diane Selwyn encontrado na lista telefônica e chegam até o condomínio onde supostamente mora a pessoa de nome Diane (que, nesse momento, elas desconfiam tratar-se da verdadeira identidade de Rita). Na seqüência de cenas, envolvendo uma vizinha de Diane que havia trocado de casa com a mesma, as duas investigadoras deparam-se com uma moça loira morta na cama com um tiro na boca (na verdade, a própria Diane, em sua própria casa e em seu próprio quarto). Esse é o segundo clímax do filme. As duas saem apavoradas e voltam para a casa da tia de Bety.
Bety providencia para Rita uma hitchcockiana peruca loira a título de disfarce e, à noite, acaba acontecendo uma quente cena erótica de cama entre as duas que parecem completamente apaixonadas uma pela outra (o terceiro clímax). Às 2:00 da madruga, Rita acorda de uma espécie de sonho ou transe e pede a Bety para acompanhá-la a uma feliniana casa de espetáculos chamada “Silêncio”. As duas saem no meio da noite em busca da tal referência. Encontram, entram, sentam e começa o espetáculo onde o mestre de cerimônias diz todo o tempo que “não há orquestra” enquanto são exibidos números musicais onde o público pensa que o instrumento ou a voz estão soando, mas na verdade são uma espécie de dublagem o tempo todo (cabe ressaltar aqui o impressionante – mas falso – número vocal de uma surrealista diva chamada Rebeca Del Rio, o quarto clímax do filme). Bety fica apavorada e profundamente emocionada durante o show, parece que, a partir desse momento do sonho, algo sinistro começa a ser finalmente lembrado – talvez a sua verdadeira identidade (Diane) e a sua ação homicida. Ao terminar o espetáculo, elas encontram uma bolsa sobre a poltrona vizinha de onde estavam sentadas. Dentro da bolsa, uma chave azul. Retornam rapidamente para casa e, ao chegar na cena do quarto, a figura de Bety estranhamente desaparece e Rita, apavorada, pega a caixa azul abrindo-a com a chave encontrada no teatro. O sonho assim termina e Diane acorda em sua cama sob o insistente som da campanhia (a mesma cama onde, no sonho, a moça loira desfigurada encontrava-se morta).
O QUE ACABA ACONTECENDO...
Diane acorda de seu fantástico e tenebroso sonho e vai atender a porta onde está sua vizinha que havia trocado de casa com ela (provavelmente uma manobra de Diane para fugir das prováveis investigações policiais acerca do assassinato de Camila Rodhes). A vizinha diz que “aqueles dois sujeitos” estiveram na casa dela procurando por Diane novamente (certamente policiais). A vizinha pega algumas coisas suas que restaram na casa e sai. Diane vai preparar um café e começa a ter alucinações com a imagem de Camila que acaba por aparecer nua no sofá enquanto Diane tenta estabelecer um contato sexual à força com ela. A alucinação some e Diane, transtornada, bebe seu café sentada ao sofá e observando, sobre o centro de mesa, a chave azul, sinal do seu crime. De repente, outra alucinação. Diane está efetivamente enlouquecendo. Agora ela vê os casal de velhinhos que, no sonho, estava com Bety no aeroporto. Nessa forma alucinatória eles aparecem inicialmente como miniaturas que passam por sob a porta e entra na casa assumindo em seguida o tamanho normal e perseguindo diabolicamente Diane que foge aterrorizada para o quarto. Em completo desespero, ela se deita pegando instantaneamente um revólver na mesa de cabeceira e dando um tiro na própria boca.
* * *
Essa talvez seja apenas uma das possíveis “estorinhas” que se possa montar a partir deste filme. Acredito que hajam outras formas de compreendê-lo, até porque, como ocorre com o sonho propriamente dito, as interpretações possíveis são inúmeras e igualmente válidas, mesmo que contraditórias. Na minha opinião, este filme é uma grande obra prima do cinema indicadora da genialidade de seu autor (quem sabe seja a sua grande obra?). Tal genialidade, ao meu ver, implica em diversos aspectos, mas a grandiosidade aparece particularmente quando o cineasta desconstrói radicalmente toda forma linear e narrativa do nosso pensamento usual, deixando-nos completamente confusos, sem qualquer compreensão racional e, ao mesmo tempo, ele nos prende a atenção do início ao fim, mantendo-nos até contrariadamente de olhos fixos no filme. Isso parece acontecer pela maestria hitchcockiana tão viva na maioria das cenas, assim como pelo refinado apuramento estético que é dado a cada imagem. Uma excelente obra de arte, sem dúvida. Observem que praticamente todo o filme, tanto nas supostas cenas reais assim como nas hipotéticas cenas oníricas, é permeado pelas cores verde e/ou vermelha, algo bastante fantástico, sugerindo talvez que o sonho e a chamada realidade sejam, no fundo, a mesma coisa. Esse é outro aspecto da genialidade da obra, sua provável grande profundidade psicológica na medida em que nos incita várias questões reflexivas de peso como, por exemplo: sonho vira verdade?; a verdade é sonho?; a arte é sonho?; sonho é arte?; a vida imita a arte?; a vida é sonho?; etc...
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